É notório o argumento de que o Estado brasileiro deve uma
reparação aos descendentes de africanos escravizados no Brasil. Esta reparação
é possível através dos mecanismos sociais de inclusão e reparação dos danos
causados a estes atores sociais historicamente alijados do processo de
emancipação humana promovido pelo Estado burguês a aqueles que orbitam em sua
esfera.
Desde o seu aparecimento, os membros da cultura Hip Hop,
uma formação cultural baseada em raízes afro-indígenas que se consolidou
industrialmente¹ nos Estados Unidos da América, mas que traz elementos
significantes de todas as Américas e, dos povos ribeirinhos do Atlântico
Negro². Desde o seu princípio, este movimento cultural expressa à necessidade
de inclusão, e dialoga com as mais diversas esferas do poder estatal.
Esta articulação dos atores sociais representantes da cultura Hip Hop internacional, nada mais é do que um clamor por cidadania, pela garantia de seus direitos e pela vida da juventude, por uma juventude negra viva e contribuinte do desenvolvimento de seu grupo sócio racial, esta articulação sociocultural têm na Nação Hip Hop Brasil sua expressão maior. E, neste momento em que vimos um verdadeiro extermínio da juventude negra brasileira por parte das forças de segurança componentes do Estado brasileiro, o papel da Nação Hip Hop e, dos demais grupos socioculturais na articulação de uma resposta a este braço armado do Estado, é de suma importância para que não represemos o futuro do país, para que não troquemos um desenvolvimento que pode, e deveria ser inclusivo e sustentável, por um desenvolvimento predador, alienante e segregador.
Esta articulação dos atores sociais representantes da cultura Hip Hop internacional, nada mais é do que um clamor por cidadania, pela garantia de seus direitos e pela vida da juventude, por uma juventude negra viva e contribuinte do desenvolvimento de seu grupo sócio racial, esta articulação sociocultural têm na Nação Hip Hop Brasil sua expressão maior. E, neste momento em que vimos um verdadeiro extermínio da juventude negra brasileira por parte das forças de segurança componentes do Estado brasileiro, o papel da Nação Hip Hop e, dos demais grupos socioculturais na articulação de uma resposta a este braço armado do Estado, é de suma importância para que não represemos o futuro do país, para que não troquemos um desenvolvimento que pode, e deveria ser inclusivo e sustentável, por um desenvolvimento predador, alienante e segregador.
Há muito, no mundo ocidental, se discute o papel do
Estado na promoção da cidadania e emancipação humana de seus membros, discussão
esta que perpassa toda a história de consolidação da cultura Hip Hop como a
principal voz da juventude negra e periférica brasileira, mas o que é
cidadania? Como conquista-la? Esta é a pergunta da maioria dos jovens negros
militantes da chamada cultura de rua, ou não, que ao saírem de suas casas para
o dever diário, não tem certeza se voltam, conforme nos mostra o relatório
elaborado pela Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do
Adolescente³ (Anced – Seção DCI Brasil), o monitoramento mostra que a taxa de
homicídios entre a população de até 19 anos aumentou 194,2%, entre 1980 e 2012.
Antes, no Brasil, morriam 19,6 jovens a cada grupo de
1.000, proporção que passou para 57,6 ao longo das três últimas décadas. O
jovem que sofre com mais frequência essa violação é negro e pobre, diz o
documento. No período citado, o número de vítimas brancas caiu 32,3% e o de
negras aumentou 32,4%.
Nós, membros da Nação Hip Hop Brasil, acreditamos que
esta luta contra o extermínio da juventude negra, apesar de desigual, é uma
luta que merece ser lutada. Mais direitos, deveres e cidadania são as pautas
que nos movem. Compreendemos que a cidadania nasce como fruto de um processo
histórico que levou a sociedade ocidental a construir e se inserir como parte
deste conjunto de direitos. Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à
propriedade perante a lei, em resumo, ter direitos civis (Pinsky, 2003)**.
Oriunda de processos variados ao longo da história das
civilizações, analisar a evolução do processo de conquistas políticas cidadãs,
nos permite concluir que não houve uma sequência única na evolução da
cidadania, nem mesmo nos países ocidentais, e que mesmo no seio dos Estados
nacionais este conceito e/ou conquista pode variar de região para região, por
isso lutamos e gritamos para sermos ouvidos. A Alemanha em pleno séc. XX
instituiu o trabalho escravo a partir da segregação racial do Estado, os EUA
até a segunda metade do século XX tinham seus cidadãos de origem africana, como
cidadãos de segunda classe, sem cidadania plena, somente com deveres e sem
direitos. Assim como existiam cidadãos de segunda classe no império romano
monárquico. A transformação da sociedade humana e as conquistas burguesas de
direito e qualidade de vida, trouxeram para a humanidade outro parâmetro de
direitos, ainda que estes não sejam reconhecidos e/ou adotados em todos os
países.
Assim, o Brasil, país inserido dentro da história de
consolidação das conquistas burguesas ocidentais, não pode negar os avanços
auferidos nos últimos anos, de conquistas e ganhos emancipatórios e, sucumbir
aos interesses de uma burguesia controladora do Estado, que ao se sentir
ameaçada pela inserção da base da pirâmide social nos espaços de disputa,
radicaliza nos atos de coerção e repressão da maioria minorizada. É este
combate que nos move, é esta luta e esperança no presente que faz a Nação Hip
Hop Brasil estar presente em quatorze estados da União, mais o Distrito
Federal, e neste ano que completa dez anos de existência se consolida como um
farol no caminhar da juventude negra e periférica em busca da legitimação de
seus direitos e conquistas históricas.
¹ – Ver sobre Indústria Cultural
² - Ver Paul Gilroy- Atlântico Negro
³ - Ver www.juventude.gov.br/juventudeviva
*Richard Santos, também conhecido como Big Richard, é
carioca, artista/ativista histórico da cultura Hip Hop brasileira e dos
movimentos de juventude e periferia. É membro da Nação Hip Hop Brasil,
jornalista/apresentador de TV com passagens por diversas emissoras. Sociólogo é
autor de diversos livros e artigos publicados. Especialista em História e
Cultura no Brasil, mestre em comunicação e doutorando em Ciências Sociais,
também é membro da Associação Nacional de Pós-graduandos, ANPG, e membro
pesquisador do Observatório Latino-americano das indústrias de conteúdos
digitais, OLAI.
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