segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

[ Laroyê, 18 anos: É nois, somos resistência, atitude e periferia ]

Painel em Homenagem a Mel Gomes, feito por @ch_monstro durante a Bienal da UNE

[ Laroyê, 18 anos: É nois, somos resistência, atitude e periferia ]

Uma produção coletiva da Nação Hip-Hop Brasil, 2023


        Que se abra os caminhos, este ano comemoramos 18 anos da criação da nossa organização, a Nação Hip-Hop Brasil. Um coletivo formado por fazedores de cultura periférica e que desde o seu nascimento está pautado na luta por direitos. Somos uma árvore de baobá plantada no Fórum Social Mundial no ano de 2005 enraizada na comunhão de ideias e forças em prol do movimento Hip-Hop e das culturas das Periferias.

Fomos semeados por mãos das minas, monas e dos manos do Hip Hop e das culturas urbanas do País. Os frutos estão florescendo nas diversas bandeiras de luta: 1 - O nosso posicionamento em prol das culturas urbanas e periféricas; 2 - Na implementação de casas do Hip-Hop e semana Hip Hop com o intuito de manter viva e combativo nosso movimento; 3.  -  Na luta constante por juventude negra viva, em provocações de audiências, reuniões e posicionamento nas redes contra o genocídio das juventudes; 4 - Na elaboração e apresentação do Pacto Pelo Hip-Hop e pelas Periferias, nas Eleições Municipais - 2020 e nas Eleições Nacionais e Estaduais em 2022, que pautaram as esferas legislativas e executivas das Culturas Urbanas, Periféricas e Hip-Hop, nos pleitos.

 Temos com rumo lado sul do mapa, a elaboração coletiva de 2018, com o “Manifesto: O Grito da Periferia” que cunhou os eixos: 1) Geração de Trabalho e Renda e Empreendedorismo; 2) Comunicação e Mídias; A comunicação mais do que nunca, é uma atividade pilar para a Nação Hip Hop; 3) Cultura e Entretenimento; 4) Ocupação de Espaços de Poder com Ação Política e Institucional; 5) Desenvolvimento Social Educacional e Cidadania; Todos estes eixos, foram construídos por corações, mãos, mentes e seguem sendo pautados por nossos coletivos, núcleos e aglomerados por todo País. 

E assim, nos colocamos a participar da 13ª Bienal da UNE - Festival dos Estudantes. Com o tema Um Rio chamado Brasil, o evento está marcado para 2 a 5 de fevereiro de 2023, no Rio de Janeiro, na Fundição Progresso, na Lapa. Viemos de várias partes do País para Bienal e aqui vamos co-criar espaços de trocas, aprender e ensinar, vivenciar e experimentar, fazer e proporcionar ensinamentos coletivos sobre a bênçãos de nossas mestras, mestres e ancestrais. O mestre Abdias do Nascimento (2002), em seu texto sobre: Quilombismo: um conceito científico histórico-social, nos ensina:

“Precisamos e devemos codificar nossa experiência por nós mesmos, sistematizá-la, interpretá-la e tirar desse ato todas as lições teóricas e práticas conforme a perspectiva exclusiva dos interesses da população negra e de sua respectiva visão de futuro. Esta se apresenta como a tarefa da atual geração afro-brasileira: edificar a ciência histórico-humanista do quilombismo.”

A partir desta perspectiva, nos organizamos durante estes dias no “Quilombo da Nação”. Cunhamos este termo e nomeamos este espaço assim, pois aprendemos com Abdias do Nascimento (2002), que “Quilombo quer dizer reunião fraterna e livre, solidariedade, convivência, comunhão existencial e neste espaço vivenciamos”. E o que fizemos foi  Aquilombar-se como proposto pelo jornalista Joselicio Junior (2019) em um artigo escrito na Revista Fórum intitulado “É tempo de se aquilombar”, vejamos:

“Aquilombar-se na atualidade é estabelecer o autocuidado, construir espaço coletivos de afeto, de acolhimento, de escuta, de sociabilidade, de sentidos coletivos, de fortalecimento de laços, memórias e constituição de uma identidade.”

Assim foram os dias aqui, uma programação recheada de tarefas, produções, criações, reflexões e acúmulos que marcam e demarcam esta que é a maior mostra de arte estudantil da América Latina. Tivemos a contribuição e trocas nos mais diversos ambientes, como: Espaço Cuca da UNE; Tenda da UJS; Produzimos um mural em homenagem a Mel Gomes; Ocupamos o Palco Carolina Maria de Jesus; Nos conectamos ao Fórum de Impulsionadores de Cultura Nacional; Reconhecemos e premiamos com o Selo Mel Gomes, lideranças e parceiros da Nação do RJ; Participamos de oficinas e realizamos a Batalha da Nação que ocupou os Arcos da Lapa no palco principal do evento. Somado a isso uma série de performances, shows, poesias, graffitis, sobre "Esse Rio Chamado Brasil" proposto pela 13° Bienal da UNE. A “Batalha da Nação" em especial contou com seletivas estaduais anteriormente e uma etapa nacional com a presença expressivas de produtores, fazedores, artistas e instituições parceiras que fizeram acontecer. Muito obrigado à todes!

Foto com os MCs e participantes da seletiva estadual no Palco Carolina Maria de Jesus


Um acúmulo importante extraído de 16 (dezesseis) Estados Federativos que participaram e nos chamou atenção foi a falta de representatividade feminina e LGBTQIA+ nas seletivas e na etapa nacional, que apresenta um diagnóstico de fazermos uma força tarefa para realizar etapas femininas e de diversidades da Batalha da Nação, a ser realizada este é um compromisso assumido por nós e busque e equiparade de gênero e fortalecer a luta contra qualquer tipo de discriminação e violência, exercitando a prática de escuta ativa e acolhimento que nossa entidade sempre se propôs. Na entrevista para Correio Braziliense, publicada em 08/03/2017, a rapper Vera Verônica já nos alertava: "Por isso batalhas de minas são importantes para que elas possam rimar e colocar a sua voz, sem que sejam ofendidas."

Precisamos nos comprometer em realizar ações educativas e afirmativas com protagonismo das mulheres, LGBTQIA+ no Hip-Hop. Trabalhar a diversidade e inclusão e se colocar como uma organização que traz em seu DNA esta missão transformadora. Sabemos que não é tarefa fácil, mas sim necessária para a sustentabilidade institucional e política de toda cadeia do Hip-Hop e das Culturas Urbanas. Façamos! Que os ensinamentos do rapper Sabotage (2000), diz “O Rap é compromisso, não é viagem” e que vamos parafrasear para “O Hip-Hop é compromisso, não é viagem” e seja uma luz para nós e que precisamos manter nossa atenção a esta construção sistêmica, coletiva e cotidiana.

Esta nossa participação na nesta Bienal, com a cadeia produtiva do Hip Hop e das Culturas Urbanas nos apresenta uma gira de 07 proposições transversais:

1 - Gerar de trabalho e renda, sendo uma opção aos nossos para sobreviver do fazer cultural em suas quebradas, cidades e de Profissionalização;

2 - Comunicar e ocupar as redes e nela debater ideias, apresentar narrativas e mostrar nossa cara, estar presentes nestes ambientes com nossa identidade e força de produção, narrativas e conteúdos;

3 - Nossa cultura também e entretenimento para nós, "eu só quero é ser feliz" e felicidades para nós ter que ser um direito para "andar tranquilamente na favela" na rua, na pela cidade, pelo país e mundo, para poder curtir o rolê em paz e não viver nunca mais tempos genocidas e/ou ser assinado pelo braço armado do Estado ou vítima do sistema estrutural que a cada 23min assassina um jovem negro pelo Pais;

4 - Ocupar e Espaços de Poder, estar atendendo aos colegiados, comitês, comissões, fóruns que pautam cultura, Periferia, e demais temáticas que impactam as vidas do nosso povo, se colocar e fortalecer os nossos que estão nos legislativo, executivo e judiciário pois estes lugares precisam ter nossos corpos e mentes ali formulando, produzindo sob nossas óticas; Ocupar um Espaço de participação e colegiados temáticos das esferas municipais, estaduais e federais;

5 - Por Desenvolvimento Social, somos fazedores, somos trabalhadores, somos impulsionadores de cultura. Nos desafiamos a implantar dezenas de Casas; pautamos nos territórios a legalização das Semanas e Fóruns do Hip-Hop, Culturas Urbanas e Periféricas;

6 - vamos promover e lutar por direito de realizar e promover; ocupar espaços públicos com Batalhas/Rodas de Rima e Break, Intervenções de Graffiti e Performances de DJ, sejam respeitadas e reconhecida pelo poder público como patrimônio cultural material e imaterial;

7 - Que tenhamos investimento e possamos promover a formação, a fruição e fomento permanente em parceria com outras frentes de luta e pelo fortalecimento da democracia;


Homenagem a Mel Gomes no Palco Principal durante toda a final da Batalha da Nação.

Aquilombaremos para cuidar da semente plantada, e regamos o nosso baobá que cresce sob a luz da nossa MEL GOMES, presente, hoje e sempre.


---------------------------------------------------------------------------------

Referências:

Quilombismo: um conceito científico histórico-social - Abdias do Nascimento (2002) - http://www.letras.ufmg.br/literafro/arquivos/ensaistas/qQuilombismo_um_conceito_cientfico_histrico-social.pdf

Respeita as minas: as mulheres do rap estão aí e lutam por espaço - Correio Braziliense, 08/03/2017, https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2017/03/08/interna_cidadesdf,579236/mulheres-que-cantam-rap-lutam-por-espaco-e-respeito.shtml

É tempo de se aquilombar - Jornalista Joselicio Junior (2019) - Revista Fórum - https://revistaforum.com.br/opiniao/2019/4/29/tempo-de-se-aquilombar-55485.html

Manifesto: O Grito da Periferia - 2018 http://www.nacaohiphopbrasil.com.br/2018/06/manifesto-o-grito-da-periferia-nacao.html

Rapper Sabotage – Rap é Compromisso (2000)