Salve Preta Rara! Você já tem uma caminhada no Rap, mas atuava com Grupo e agora ta fazendo seu trampo solo, como ta esta nova fase e seus projetos atuais?
Desde 2014 eu to fazendo este trabalho de carreira solo tentando divulgar e percorrer todo o Brasil, já tive por vários cantos de São Paulo e também a felicidade de ir para outros estados. No ano passado fui pra Minas, depois pra Bahia, fiz inclusive um evento no Bairro Cabula onde houve aquela triste chacina, e recentemente também fui a Curitiba num evento promovido por Jovens Estudantes Feministas.
Agora to na expectativa de tão breve possível lançar meu CD intitulado “Audácia”, este titulo é porque eu acho que hoje em dia tem que ter muita audácia sendo mulher e viver nesta sociedade machista, racista e tão preconceituosa, tem que ter audácia mesmo pra dar a cara pra bater, se expressar da maneira que se quer e falar de temas que muitas vezes incomoda, meu trampo não é preocupado com a questão comercial, é claro quero fazer um trampo com Beat legal, com Melodia, mas poder falar também de temas que acho importante expressar e contestar.
Eu inclusive resolvi estudar e correr atrás pra ter uma outra profissão mesmo, pra não depender 100% do Rap né, pois a gente sabe que sobreviver da música é difícil, tem varias pessoas aí que já ta na caminhada muito tempo e ainda tem dificuldades, se um dia eu conseguir sobreviver só da música e do Rap legal, mas senão conseguir eu continuo na caminhada, inclusive este trampo que vou lançar no segundo semestre traz estes meus pensamentos e idéias, eu digo que se quiser saber o que penso é só ouvir este CD Audácia que lá eu procurei expor minhas idéias vontades e anseios, acho que as mulheres em especial as mulheres negras vão se identificar com este trabalho.
Então da pra dizer que você tem dois talentos, além de ser uma grande MC também tem o dom de ser professora, neste caso dá pra intercalar as duas vivências e levar o Rap e Hip Hop pra sala de aula?
Dá sim, eu sempre levo o Hip Hop pra sala de aula como mais uma ferramenta de aprendizado. Eu sempre me questiono porque fui ser professora de história, pois na época de colégio nem gostava desta matéria tanto assim, mas acho que era por conta da forma, tipo texto e questionário e mais nada, não tinha outra forma de ver a historia contada. Já nos dias de hoje, dependendo do tema, eu trago para a sala alguma música, um poema, um vídeo, um debate, e aí os alunos gostam porque quebra aquela rotina que para eles é meio chata e a aula passa a ser atrativa, e também é raro levar minhas músicas, sempre levo outros artistas e de vários estilos. Eu uso o hip hop, mas poderia ser usado outras manifestações culturais também, como o teatro, entre outros.
Presenciamos todo dia que infelizmente essa questão do racismo e do preconceito ainda é algo muito presente no Brasil, como a Preta Rara, mulher, negra, e oriunda de periferia lida com esta questão no dia a dia?
Posso dizer que no dia a dia ainda é muito complicado, mas eu resisto, pois é isso mesmo, infelizmente a gente vive numa sociedade racista apesar de muitos que insistem em dizer que não é, mas nós temos vários acontecimentos por ai que provam que este preconceito e o racismo ainda existem. Mas assim, no dia a dia eu me reafirmo todo dia, no meu visual, na questão das tranças, turbante, e também chamar a atenção para estas questões e debater, pois as pessoas ainda não entendem porque me visto assim, me apresento assim, e tudo isso também trago nas poesias e nas músicas pois assim eu consigo usar isso como um mecanismo através do ritmo e da poesia, acho que assim as pessoas tendem a prestar mais atenção, acho que as pessoas as vezes estão tão mecanizadas que nem percebem que em alguns gestos estão propagandeando e cometendo atos de preconceitos e racismo.
Eu sei que você em sua atuação como Professora, procura a partir de suas vivências com Hip Hop e sua Graduação, fazer valer a aplicação da Lei 10.639, o que ainda é ausente na maioria das escolas, como foi esta sua atuação e preocupação?
Eu sempre abordo esta questão do racismo na sala de aula até pra poder desmistificar algumas coisas. No Brasil se passou boa parte dos tempos contando principalmente nos livros de história, a trajetória dos vencedores e não a dos vencidos, então sempre se exaltou o Capitão do Mato, mas não a historia do africano que foi escravizado e tirado a força do seu país e de sua família e de seu povo. E assim aos poucos fazendo cumprir a lei 10639 que obriga o ensino sobre a história da África na sala de aula, e poucas escolas infelizmente cumprem esta lei, sem esquecer que tem a questão indígena também e que é outra lei complementar que não é cumprida.
Nosso ensino ainda é tudo baseado na questão européia, se estuda tanto sobre França, Espanha, mas pouco se sabe ainda sobre o Brasil e sobre nossa origem Africana. Claro que podemos perceber pequenos avanços, é inegável que algumas coisas melhoraram, mas ainda precisa avançar muito. Eu tive a sorte de meu professor na graduação da faculdade ter preocupação com o tema inclusive brigando pra que a faculdade adquirisse material didático sobre o tema, mas sabemos que nem todos são assim, têm professores amigos que se formaram na mesma época e que não viram nada sobre este tema na graduação, só que assim, também acho que precisa de um esforço de quem está com esta função de educador ir buscar informação e orientação sobre o tema, pois assim como teve a mudança das regras de ortografia e os professores de português não tinham material suficiente para os educadores aprenderem sobre estas mudanças e eles correram atrás pra saber. Então acho que eles também deveriam fazer o mesmo agora pra saber sobre este tema, quem é professor sabe o que eu digo, as vezes é muita reclamação sobre aluno, salário, enfim…, eles sempre se queixam que não tem conhecimentos sobre isso,não tem material e tal, mas poxa, hoje na internet você tem vários materiais, várias pessoas que escrevem sobre o tema, então acho que falta também em alguns interesse em buscar saber sobre o tema, porque fica até chato pra gente pois só a gente fala, só a gente aborta o tema, e chegamos até ficar marcados como aqueles professores que só falam sobre isso, que tão sempre tocando neste tema, só que é lei então todos deveriam ter esta preocupação e ação.
Preta Deixa um Salve aí pra nossa Galera e Diga como o pessoal pode conhecer e acompanhar seu trabalho.
O pessoal pode acompanhar meus trabalhos e agendas na página Preta Rara do facebook, pelo instagram@pretarararap , o pessoal pode acompanhar o andamento do CD e shows. Quero agradecer a Nação Hip Hop que sempre me fortaleceu, agradecer pelo carinho e atenção. Tamo Junto, Saudações Africanas a todos!!.
*Joyce Preta Rara – Rapper e Professora, de Santos SP, Prepara para 2° Semestre de 2015 seu EP titulado “Audácia”. Em 2013 Recebeu o Prêmio Zumbi dos Palmares e em 2015 a Medalha Theodosina Ribeiro.
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