ZUMBI
VIVE? – Por Big Richard
Chega
o mês de novembro, e emergem debates e reflexões sobre a história e situação
afrodescendente no Brasil. Parece aquele lugar marcado para pensarmos,
refletirmos ficarmos tranquilos por termos feito isso, sermos legais, e no
restante do ano nos sentirmos descompromissados. É isso ou não?
Ao
longo deste ano, temos visto o acirramento do conservadorismo brasileiro, a
radicalização das forças opressivas da direita, e uma tentativa de
desconstrução dos ganhos sócio raciais dos últimos anos. E o que a maioria da
população brasileira tem feito ou refletido sobre isso, sobre estas perdas?
Muito pouco! Cadê Zumbi? Zumbi vive dentro de você? Como?
Antes,
porém, seria interessante tratarmos um pouco sobre a origem do 20 de novembro,
o que é, como é?
O
dia 20 de novembro é celebrado como uma homenagem a Zumbi dos Palmares – mito fundador da
luta antirracismo no Brasil -,data na qual entrou na
imortalidade, lutando por um Brasil mais diverso e pelo fim da exploração do
homem negro pelo homem branco, em 1695. Líder do Quilombo dos Palmares, segundo
aponta a história, foi um personagem que dedicou a sua vida lutando contra a
escravatura no período do Brasil Colonial.
De
lá para cá, coisa pouca mudou a realidade das populações negras no Brasil, a
sensação de insegurança, perseguição, exclusão, e punição, permanecem.
Precisamos refletir sobre isso. Precisamos refletir seu legado, e o legado de
tantos Zumbis que formam a história do sujeito afrodescendente brasileiro. No
período de governo Lula, principalmente, tivemos avanços na luta de combate ao
racismo, significativos. Em 2003, no dia 9 de janeiro, criou-se a lei 10.639
incluiu o Dia Nacional da Consciência Negra no calendário escolar. A mesma lei
que torna obrigatória o ensino sobre diversas áreas da História e cultura Afro-Brasileira.
Porém, pouco implementada nos espaços acadêmicos, e com grande rejeição dos
grupos evangélicos neopentecostais fundamentalistas.
Em
2011, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei 12.519/2011, que cria o
feriado do Dia da Consciência Negra, porém, não obriga que ela seja feriado.
Isso determina que ser feriado ou não varia de cidade para cidade, de acordo
com a sensibilidade dos Prefeitos e do legislativo municipal. Ainda sim, o Dia
da Consciência Negra é feriado em mais de 800 cidades brasileiras.
Todos
estes avanços e retrocessos, conquistas e não implementações, têm atingido
diretamente a um sujeito comum; o jovem negro brasileiro, vítima de uma
política de extermínio arquitetado pelos controladores/reguladores do Estado.
Os representantes da elite cafeeira, que se traveste nas famílias burguesas, e
controladoras do capital nacional, e cuja constituição ideológica reflete nos
meios de comunicação que propagam suas demandas e pautas excludentes, e
criminalizadoras desta juventude. Cadê o Zumbi dentro de você?
Para
ilustrar, brevemente, esta colocação, pensemos a situação da juventude negra no
Distrito Federal, às portas do Palácio do Planalto e de todos os principais
órgãos do executivo e legislativo; segundo pesquisa da Codeplan, Companhia de
Planejamento do Distrito Federal, mais da metade da população do Distrito
Federal é negra, 56,2% (2010) as regiões administrativas com maior contigente
de população afrodescendente, Estrutural e Fercal, são também as mais pobres e
com maiores índices de violência da região. Segundo a própria Codeplan, são
locais conhecidos pela violência e condições precárias de moradia.
Outro
importante dado sobre a situação da população negra na Capital Federal, reforça
o olhar para a gritante desigualdade sócio racial: 70% dos moradores de favelas
no DF são negros, e na comunidade de Vila Rabelo, em sobradinho II, este
contingente chega a 83%. Pesquisa do Dieese mostra que a renda média por
hora de um trabalhador negro é de R$ 11,37, o equivalente a 64,7% do salário
médio por hora de um trabalhador não negro, que é de R$ 17,46. De acordo com o
levantamento, realizado com base em dados de 2013, os negros estão em ocupações
mais precárias, com jornadas de trabalho maior e sem proteção social. Eles
também são os que mais sofrem com desemprego.
Na
questão de gênero, ainda segundo a Codeplan, 72% dos lares no DF são chefiados
por homens, acompanhados de suas companheiras, e em 89% das casas administradas
por mulheres, elas estão sozinhas, sem companheiros. E, as mulheres negras são
as responsáveis pela maioria dos lares individuais, sem um parceiro.
Enfim,
trouxe estes parcos dados para ilustrar a situação da população afrodescendente
no Brasil, os caminhos e descaminhos das políticas públicas progressistas sob
pressão dos conservadores, e que demandam a nossa presença nas ruas, e nos
debates nos mais diversos espaços, somos responsáveis pela manutenção das
conquistas, e também pela perda delas.
Segundo
os historiadores, ao ser caguetado por um ex-companheiro de quilombo e,
encontrado ferido em seu esconderijo, após uma grande batalha que havia
destruído parcialmente o quilombo dos Palmares pelos soldados do governo
imperial, comandado pelo bandeirante Domingos Jorge Velho, Zumbi preferiu o
suicídio, pulando do precipício, à se entregar e retroagir nas conquistas da
luta guerreira. E você, se jogaria pelo quê?
Zumbi
vive?
Fonte:
Blog do Walter Sorrentino
Big
Richard Santos - Hamilton Richard Alexandrino Ferreira Dos Santos; É doutorando
em Ciências Sociais no CEPPAC-UNB, mestre em comunicação pela Universidade Católica
de Brasília, especialista em História e Cultura no Brasil pela Universidade
Gama-Filho, e graduado em Ciências Sociais pela Universidade Metodista de São
Paulo. Atua também como membro do Observatório Latino-americano da Indústria de
Conteúdos Digitais na Universidade Católica de Brasília, Dirigente Nacional da
Nação Hip Hop Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário