segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Conversa com Beto Teoria – Blog do Sorrentino

Entrevista com Beto Teoria, às vésperas do 4º encontro da Nação Hip Hop. Ele é um líder desse movimento desde sua fundação, ao lado de outros manos e minas. Aqui ele comenta um pouco da realidade social em que vivem esses jovens e afirma:
- Nosso objetivo é uma Nova Nação, para um Novo Hip Hop.

Beto, o 4º Encontro Nacional da Nação Hip-Hop Brasil ocorre nos marcos da comemoração de 10 anos da entidade. Conte um pouco como foi essa trajetória e qual o balanço dessa década da Nação?.
A Nação hip hop surgiu para contribuir no debate político a partir das nossas vivências no cotidiano da periferia e do universo hip hop que traz temas transversais, contribuindo em âmbito social, cultural e político. Nestes 10 anos tivemos participação em várias lutas ajudando o Brasil a ser um país de mais oportunidades aos nossos manos e minas, mas sabemos que ainda há muito a se fazer. Neste sentido existe a necessidade de se forjar uma nova geração do movimento e também uma agenda propositiva para avançar num projeto de um país mais justo e igual.

 
Beto, o 4º Encontro Nacional da Nação Hip-Hop Brasil ocorre nos marcos da comemoração de 10 anos da entidade. Conte um pouco como foi essa trajetória e qual o balanço dessa década da Nação.
A Nação hip hop surgiu para contribuir no debate político a partir das nossa vivências no cotidiano da periferia e do universo hip hop que traz temas transversais, contribuindo em âmbito social, cultural e político. Nestes 10 anos tivemos participação em várias lutas ajudando o Brasil a ser um pais de mais oportunidades ao nossos manos e minas, mas sabemos que ainda há muito a se fazer. Neste sentido existe a necessidade de se forjar uma nova geração do movimento e também uma agenda propositiva para avançar num projeto de um país mais justo e igual.

Já é um senso comum que nos governos Lula e Dilma muitos trabalhadores ascenderam socialmente. Muitos falam em nova classe média ou nova classe C. Efetivamente estamos falando de trabalhadores que vivem nas periferias das nossas cidades que não tinham acesso aos benefícios que o Estado permite e passaram a ter (Compra da casa própria, linha de crédito para negócio próprio, ingresso à universidade, etc.). Como é a relação desse novo contexto com o o movimento hip-hop?
O Hip Hop foi colaborador destas vitórias dos últimos governos progressistas e neste sentido também pôde receber alguns frutos desde ciclo positivo. Muitos da velha geração não tiveram oportunidade de acessar a universidade, hoje vemos vários irmãos e irmãs obtendo esta conquista e ascensão educacional, muitos de nós cresceram em barracos de madeiras, hoje nosso filhos crescem no prédios do programa minha casa minha vida… Outro ponto positivo foi o acesso a novas tecnologias: as músicas de muitos do Rap hoje cruzam um universo via web jamais imaginado uma década atrás; hoje ainda vendemos CD mas não mais como antigamente pois o acesso fácil e gratuito ao download é uma realidade.

Ultimamente tem se falado muito na pacificação das favelas e a ação do Estado no sentido de que os serviços públicos possam chegar às comunidades. Ao mesmo tempo vivemos um cenário em que 30 mil jovens, na sua grande maioria homens, negros e habitantes das periferias das grandes cidades, morrem por arma de fogo todos os anos. Como é a realidade da periferia 10 anos depois de criada a Nação? Quais as transformações que ocorreram e as contradições que ainda persistem?
As balas nas periferias não são de borrachas, e a violência policial – herança maldita da ditadura militar – ainda é uma triste realidade. A manifestação de livre pensamento e livre acesso a alguns locais e bens pelo povo preto e pobre da periferia, não é bem vista como um direito democrático e sim uma afronta ao estado, e isso traz estes tristes e diários acontecimentos. A Nação ainda é só um dos poucos núcleos da sociedade organizada que se propõe a fazer o enfretamento no campo das ideias e disputar o imaginário dos nossos iguais pra formar um exército de luta a favor do nosso povo, e isso não é fácil, pois nem todos conseguem enxergar esta necessidade de estarmos preparados pra este enfretamento e também é fato que muitos dos nossos ainda carecem de questões básicas o que nos fragiliza muito. Em alguns momentos não se tem opção, ou se trabalha pra ganhar o sustento ou se vai a uma reunião de formação pois vivemos num mundo capitalista e cada vez mais individualista, e é por isso que cada guerreiro e guerreira do hip hop tem um valor imenso pra nós, pois o esforço destes em se manter de pé é muito além do que se vê.

É possível dizer que à medida em que foram assumindo um caráter mais golpista as manifestações da direita na metade do ano foram mostrando a sua essência. Em sua maioria homens brancos, de classe média alta e de setores privilegiados da nossa sociedade. Na última manifestação um grupo de jovens da zona leste de São Paulo, espantou-se com os coxinhas tirando foto com o choque. Como tem sido, na periferia, o enfrentamento à ofensiva golpista que a direita busca impor ao nosso país e ao nosso povo?
Quando diziam nas manifestações que o “Gigante Acordou” a gente dizia só se foi pro lado de alguns pois do nosso lado a gente aqui nunca dormiu, o Rap e o Movimento Hip Hop faz a denúncia de tudo que tá aí escancarado de podre na sociedade desde a década de 90, basta olhar as musicas dos Racionais, do Consciência Humana, do Face da Morte. Somos os herdeiros do povo quilombola, descendente de escravos, aqui ninguém tem sangue europeu e herança de latifúndio, até porque na periferia muitos de nós nem pai tem. Mas daí quando a elite brasileira vê uma parcela deste povo sofrido vencendo todas estas desigualdades e ocupando espaços de decisão e de poder, eles mostram a real face perversa que estes setores conservadores da sociedade sempre tiveram.

As canções de Rap sempre tiveram uma forte marca de denuncia social. Com os avanços que tivemos nos últimos anos muitos afirmam que essa nova realidade impactou nas letras de Rap. Chegaram até a comparar os primeiros discos do Racionais MC’s com os atuais para justificar isso. Ao mesmo tempo surgem grupos que mantem ou resgatam esse caráter denuncista como o Trilha Sonora do Guetto. Como está a cena do Rap na conjuntura atual?
A Sociedade avança, o mundo se transforma, não usamos mais a fita cassete, o vídeo VHS, hoje também temos acesso a tecnologia e a outras ferramentas, então é natural que possamos ampliar nosso universo de ação também. O RAP é a abreviação de Rhythm and Poetry, ou seja Ritmo e Poesia, sendo assim não ficamos reféns de temas A ou B, temos um universo de possibilidades de narrativas, podemos falar de amor, de dor, de política ou revolução, deixamos pro público apreciar e agregar aquilo que cabe dentro do seu universo de pessoa ou de núcleo social, a arte não tem fronteiras e nossa voz ecoa do carro do playboy ao barraco de madeira, temos a arte do graffiti nos muros das avenidas mas também em exposição nas grandes galerias, então avançamos é público e notório, é uma nova conjuntura e um novo e possível caminho mas não nos iludimos, sabemos que nada pra nós é fácil e nunca vai ser, então seguimos na luta a partir de nossas dinâmicas de formação ancestral griô e guerrilha Zulu, não podemos confundir tática com estratégia já dizia Sun Tzu. Nosso objetivo é uma Nova Nação, para um Novo Hip Hop.

Sobre o Entrevistado - Roberto Landim é “Beto Teoria”, Rapper e Produtor Cultural desde 1994, atua em Projetos Socioculturais desde 2002. Atuou na gestão cultural e administrativa em Pontos de Culturas de 2005 a 2010. Empreendedor Cultural, atuou como Coordenador de Juventude da Prefeitura Municipal de Ribeirão Pires – SP de 2010 a 2013. Foi Membro do GT de Juventude do Consorcio Intermunicipal do Grande ABC e Membro do Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE) de 2011 a 2014. É criador e Fundador do Projeto da Casa do Hip Hop de Ribeirão Pires e atual Presidente Nacional da Nação Hip Hop Brasil.

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