Entrevista com Beto Teoria, às vésperas do 4º encontro da
Nação Hip Hop. Ele é um líder desse movimento desde sua fundação, ao lado de
outros manos e minas. Aqui ele comenta um pouco da realidade social em que
vivem esses jovens e afirma:
- Nosso objetivo é uma Nova Nação, para um Novo Hip Hop.
Beto, o 4º Encontro
Nacional da Nação Hip-Hop Brasil ocorre nos marcos da comemoração de 10 anos da
entidade. Conte um pouco como foi essa trajetória e qual o balanço dessa década
da Nação?.
A Nação hip hop surgiu para contribuir no debate político
a partir das nossas vivências no cotidiano da periferia e do universo hip hop
que traz temas transversais, contribuindo em âmbito social, cultural e
político. Nestes 10 anos tivemos participação em várias lutas ajudando o Brasil
a ser um país de mais oportunidades aos nossos manos e minas, mas sabemos que
ainda há muito a se fazer. Neste sentido existe a necessidade de se forjar uma
nova geração do movimento e também uma agenda propositiva para avançar num
projeto de um país mais justo e igual.
Beto, o 4º Encontro
Nacional da Nação Hip-Hop Brasil ocorre nos marcos da comemoração de 10 anos da
entidade. Conte um pouco como foi essa trajetória e qual o balanço dessa década
da Nação.
A Nação hip
hop surgiu para contribuir no debate político a partir das nossa vivências no
cotidiano da periferia e do universo hip hop que traz temas transversais,
contribuindo em âmbito social, cultural e político. Nestes 10 anos tivemos
participação em várias lutas ajudando o Brasil a ser um pais de mais
oportunidades ao nossos manos e minas, mas sabemos que ainda há muito a se
fazer. Neste sentido existe a necessidade de se forjar uma nova geração do
movimento e também uma agenda propositiva para avançar num projeto de um país
mais justo e igual.
Já é um senso comum que
nos governos Lula e Dilma muitos trabalhadores ascenderam socialmente. Muitos
falam em nova classe média ou nova classe C. Efetivamente estamos falando de
trabalhadores que vivem nas periferias das nossas cidades que não tinham acesso
aos benefícios que o Estado permite e passaram a ter (Compra da casa própria,
linha de crédito para negócio próprio, ingresso à universidade, etc.). Como é a
relação desse novo contexto com o o movimento hip-hop?
O Hip Hop foi
colaborador destas vitórias dos últimos governos progressistas e neste sentido
também pôde receber alguns frutos desde ciclo positivo. Muitos da velha geração
não tiveram oportunidade de acessar a universidade, hoje vemos vários irmãos e
irmãs obtendo esta conquista e ascensão educacional, muitos de nós cresceram em
barracos de madeiras, hoje nosso filhos crescem no prédios do programa minha
casa minha vida… Outro ponto positivo foi o acesso a novas tecnologias: as
músicas de muitos do Rap hoje cruzam um universo via web jamais imaginado uma
década atrás; hoje ainda vendemos CD mas não mais como antigamente pois o
acesso fácil e gratuito ao download é uma realidade.
Ultimamente tem se
falado muito na pacificação das favelas e a ação do Estado no sentido de que os
serviços públicos possam chegar às comunidades. Ao mesmo tempo vivemos um
cenário em que 30 mil jovens, na sua grande maioria homens, negros e habitantes
das periferias das grandes cidades, morrem por arma de fogo todos os anos. Como
é a realidade da periferia 10 anos depois de criada a Nação? Quais as
transformações que ocorreram e as contradições que ainda persistem?
As balas nas
periferias não são de borrachas, e a violência policial – herança maldita da
ditadura militar – ainda é uma triste realidade. A manifestação de livre
pensamento e livre acesso a alguns locais e bens pelo povo preto e pobre da
periferia, não é bem vista como um direito democrático e sim uma afronta ao
estado, e isso traz estes tristes e diários acontecimentos. A Nação ainda é só
um dos poucos núcleos da sociedade organizada que se propõe a fazer o
enfretamento no campo das ideias e disputar o imaginário dos nossos iguais pra
formar um exército de luta a favor do nosso povo, e isso não é fácil, pois nem
todos conseguem enxergar esta necessidade de estarmos preparados pra este
enfretamento e também é fato que muitos dos nossos ainda carecem de questões
básicas o que nos fragiliza muito. Em alguns momentos não se tem opção, ou se
trabalha pra ganhar o sustento ou se vai a uma reunião de formação pois vivemos
num mundo capitalista e cada vez mais individualista, e é por isso que cada
guerreiro e guerreira do hip hop tem um valor imenso pra nós, pois o esforço
destes em se manter de pé é muito além do que se vê.
É possível dizer que à
medida em que foram assumindo um caráter mais golpista as manifestações da
direita na metade do ano foram mostrando a sua essência. Em sua maioria homens
brancos, de classe média alta e de setores privilegiados da nossa sociedade. Na
última manifestação um grupo de jovens da zona leste de São Paulo, espantou-se
com os coxinhas tirando foto com o choque. Como tem sido, na periferia, o
enfrentamento à ofensiva golpista que a direita busca impor ao nosso país e ao
nosso povo?
Quando diziam
nas manifestações que o “Gigante Acordou” a gente dizia só se foi pro lado de
alguns pois do nosso lado a gente aqui nunca dormiu, o Rap e o Movimento Hip
Hop faz a denúncia de tudo que tá aí escancarado de podre na sociedade desde a
década de 90, basta olhar as musicas dos Racionais, do Consciência Humana, do
Face da Morte. Somos os herdeiros do povo quilombola, descendente de escravos,
aqui ninguém tem sangue europeu e herança de latifúndio, até porque na
periferia muitos de nós nem pai tem. Mas daí quando a elite brasileira vê uma
parcela deste povo sofrido vencendo todas estas desigualdades e ocupando
espaços de decisão e de poder, eles mostram a real face perversa que estes
setores conservadores da sociedade sempre tiveram.
As canções de Rap sempre
tiveram uma forte marca de denuncia social. Com os avanços que tivemos nos
últimos anos muitos afirmam que essa nova realidade impactou nas letras de Rap.
Chegaram até a comparar os primeiros discos do Racionais MC’s com os atuais
para justificar isso. Ao mesmo tempo surgem grupos que mantem ou resgatam esse
caráter denuncista como o Trilha Sonora do Guetto. Como está a cena do Rap na
conjuntura atual?
A Sociedade
avança, o mundo se transforma, não usamos mais a fita cassete, o vídeo VHS,
hoje também temos acesso a tecnologia e a outras ferramentas, então é natural
que possamos ampliar nosso universo de ação também. O RAP é a abreviação de
Rhythm and Poetry, ou seja Ritmo e Poesia, sendo assim não ficamos reféns de
temas A ou B, temos um universo de possibilidades de narrativas, podemos falar
de amor, de dor, de política ou revolução, deixamos pro público apreciar e
agregar aquilo que cabe dentro do seu universo de pessoa ou de núcleo social, a
arte não tem fronteiras e nossa voz ecoa do carro do playboy ao barraco de
madeira, temos a arte do graffiti nos muros das avenidas mas também em
exposição nas grandes galerias, então avançamos é público e notório, é uma nova
conjuntura e um novo e possível caminho mas não nos iludimos, sabemos que nada
pra nós é fácil e nunca vai ser, então seguimos na luta a partir de nossas
dinâmicas de formação ancestral griô e guerrilha Zulu, não podemos confundir
tática com estratégia já dizia Sun Tzu. Nosso objetivo é uma Nova Nação, para
um Novo Hip Hop.
Sobre o Entrevistado - Roberto
Landim é “Beto Teoria”, Rapper e Produtor Cultural desde 1994, atua em Projetos
Socioculturais desde 2002. Atuou na gestão cultural e administrativa em Pontos
de Culturas de 2005 a 2010. Empreendedor Cultural, atuou como Coordenador de
Juventude da Prefeitura Municipal de Ribeirão Pires – SP de 2010 a 2013. Foi
Membro do GT de Juventude do Consorcio Intermunicipal do Grande ABC e Membro do
Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE) de 2011 a 2014. É criador e Fundador
do Projeto da Casa do Hip Hop de Ribeirão Pires e atual Presidente Nacional da
Nação Hip Hop Brasil.
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