quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Nação comemora 11 anos buscando ampliar protagonismo

Dar voz à cultura hip hop e à periferia estão na essência da criação da Nação Hip Hop Brasil, entidade que comemorou 11 anos de existência na sexta (22) de janeiro. Em entrevista ao Portal Vermelho, o presidente e fundador, Beto Teoria, avaliou que a Nação, pelo perfil militante, contribuiu para a melhoria do país e que nas eleições deste ano o movimento terá candidatos disputando espaços nos parlamentos.

“Amadurecemos e achamos que o movimento tem condições de contribuir mais”, afirmou Beto.  Quando a Nação foi criada a vontade dos militantes era de ampliar a atuação para além das fronteiras da prática cultural.
Beto contou que essa necessidade foi surgindo nas reuniões das “posses” (núcleos temáticos) com aqueles que tinham engajamento político. Alguns dos militantes participavam da União da Juventude Socialista (UJS), onde a ideia da Nação ganhou forma. “Durante o congresso nacional da UJS de 2004 a ideia se fortaleceu concretamente e no ano seguinte fundamos a Nação Hip Hop”, contou


São 14 estados que mantém núcleos da Nação Hip Hop Brasil. Na sexta, enquanto um show na programação do Fórum Social Mundial Temático de Porto Alegre comemorava o aniversário da Nação, um novo núcleo da entidade foi lançado no Piauí. Além do Brasil, a Nação Hip Hop tem vínculos com organizações do Chile, Venezuela, Colômbia e Argentina.
Eleições
A representatividade do Hip Hop e a popularidade não se refletem nos espaços de decisão política. Portanto, eleger vereadores, deputados, indicar gestores públicos estão nos projetos da Nação. Segundo Beto, o Hip Hop tem apenas um vereador no Brasil que representa o movimento. Chama-se Anderson Quatro P, na cidade de Francisco Morato (SP).
Na opinião dele, o movimento tem nomes com trajetória e atuações políticas, de esquerda e progressista, para participar das eleições. Entre os nomes indicados para as próximas eleições estão Sharylaine, uma das primeiras rappers mulher a gravar um cd na capital paulista. Ainda em São Paulo, Beto mencionou o ex-vereador Raisuli, que exerceu mandato em Salto e vai se candidatar novamente, e Hot Black, em Aracaju.
Beto lembrou que o Brasil ainda carece de políticas concretas de enfrentamento da violência e de combate ao preconceito. “Defendemos o fim dos autos de resistência, combatemos o projeto de lei de redução da maioridade penal e queremos debater a desmilitarização da polícia”, enumerou.
Protagonismo
O presidente da Nação recuperou o papel protagonista que o movimento hip hop exerceu nos anos 90 com uma produção voltada para a denúncia social e também da participação desses militantes nas conquistas sociais que aconteceram nos últimos 13 anos.
“Nós acompanhamos e podemos apresentar de forma crítica a mudança do cenário dos anos 90 para os anos 2000. E não só fomos testemunhas como tivemos participação nas mudanças”, ressaltou Beto.
Ele avaliou que essa mudança democratizou o acesso dos jovens da periferia às universidades, ascensão na profissão, possibilidades para atuar e sobreviver da sua vocação. “O acesso aos bens trouxe esse legado. Um jovem negro da periferia poder virar doutor em comunicação, como o Big Richard”, lembrou referindo-se ao militante histórico do movimento Hip Hop que vai ingressar no doutorado.

Apesar do avanço ele admite que as oportunidades ainda são pequenas e que o movimento ainda sofre com o preconceito. “Ainda não temos acesso a projetos do Ministério da Cultura ou governos locais e notamos que somos mais aceitos quando fazemos apenas a parte cultural e lúdica” comparou.

Na opinião de Beto, o engajamento político somado ao fato do movimento ter sua origem na periferia faz do Hip Hop alvo de preconceito. “Quando é mais aguerrido, causa incômodo porque as pessoas sabem da raiz periférica, afro. Essa é a nossa essência, a ancestralidade africana, griô, de passar o conhecimento está no movimento”, completou.


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