terça-feira, 19 de maio de 2015

Se é Lei CUMPRA! Semana do Hip Hop de Aracajú

Se é LEI: CUMPRA!


Bom dia a todos e todas!

Saúdo as mulheres na pessoa de Lucimara Passos, que não se faz presente, pois teve que viajar a SP, mas que se solidariza com a nossa fala no dia de hoje. E aos homens na pessoa do vereador Lucas Aribé, um parlamentar que tem lutado pelos direitos da pessoa com deficiência.

Agradeço também ao presidente da câmara, o vereador Vinicius Porto, por ceder essa tribuna livre no dia de hoje.

Eu começo a minha fala citando o filósofo francês, Foucault – quando ele diz: que o lugar de fala de uma pessoa tem muito a dizer sobre, de quem, e pra quem se tá falando.

Hoje eu falo daqui. Mas não é daqui que eu falo exatamente, eu falo da rua. Rua essa que me fez andar de skate na minha adolescência, e que mais a frente me apresentaria o hip hop. Cito o skate aqui, pois também faço uma defesa desse esporte. A pouco, na imprensa sergipana o skate foi associado a algo que não traz futuro pra ninguém e que muito dos praticantes eram usuários de drogas. Digo que tal associação se contrapõe a minha pessoa, e de alguns amigos profissionais de skate, como Cara de Sapo, Adelmo Jr, Lucio “Mosquito”, Charles, Julio “Detefon” e tantos outros amadores que fazem do skate um esporte saudável, pois como falei, ele me apresentou o hip hop.

Deixa eu explicar um pouco o que isso!

O hip hop é uma cultura sustentada por 4 pilares, e cada um em distinto, revela o ser que a conduz. Seja o MC que revela sua vida e a dos seus em suas rimas, o dj que coleciona seus discos como um bom bibliotecário colecionas seus livros, seja o b.boy que dança de forma sincopada seus passos mais expressivos, ou seja o graffiti, que reúne cores e saberes expondo seus painéis em telas/murais da cidade. Todos esses existem e resistem ao tempo.

Desde o início dos anos setenta que esses elementos se organizam em guetos, becos, favelas e vielas por todo o globo terrestre, chega ao Brasil, mais precisamente em SP, no início de 80 e ao final dessa mesma década, em Aracaju.

O legal é que em cada lugar que a cultura hip hop se estabelece, ela incorpora os elementos de cada região se tornando o mais regional possível!

Quando elucido esta breve história é pra dizer que não pode haver argumentos que desprestigie o hip hop ou o deslegitime, foi por isso que brigamos pela aprovação da lei 4.064/2011, que institui a semana municipal do hip hop na segunda semana do mês de maio.

E aqui, senhores vereadores, venho denunciar o descumprimento da lei pela atual administração do governo municipal, pelo terceiro ao consecutivo, isso mesmo, 3 anos sem se quer iniciar um diálogo com os representantes dessa cultura ou movimento como queiram chamar!

A lei veio pra assegurar promoção e valorização dessa cultura e dos seus agentes culturais.
Quando se nega a aplicação de uma lei dessa magnitude, se possibilita o acesso a práticas não sadias pelos jovens das periferias da nossa cidade.

Em épocas que se discute admissibilidade pra reduzir a idade penal de 18 pra 16, se nega algo que pode ajudar, a esses, não adentrar no mundo do crime e das drogas.

O hip hop salva!

A nossa lei tem como padrinho o rapper Dexter, um ex-detento, que encontrou no hip hop a sua reinserção a sociedade. Ele que cumpriu 13 anos, se viu em exilio pelo estado que o negava o direito de liberdade. Num sistema prisional que não recupera. Enfiar jovens em cadeias é exterminar o futuro do país!

Embora estes jovens já estejam morrendo. 77% dos jovens assassinados eram pretos e pobres. Os dados do IBGE apontam em 2012 56 mil jovens assassinados, sendo 30 mil desses, negros de 15 a 29 anos. A idade de quem lota os Cenan’s, fundações CASA e cadeias do Brasil.
A nossa lei vem pra ir de encontro com essa máxima. Não queremos a exibição da cultura de matar e prender! Queremos uma cultura de vida e paz nas periferias do Brasil, logo, em nossa cidade.
É por isso que peço a essa casa que se some ao hip hop para cobrar da atual gestão o cumprimento da lei

A lei e o hip hop não pode ser encarada como ações inimigas ou dirigidas pelos partidos de oposição.
Somos livres e gozando dessa liberdade. Atuamos onde as nossas demandas são assistidas.

Hoje, temos algo em torno de 50/70 grupos RAP, umas 15 crews de b.boys, cerca de 50 grafiteiros e uma imensa parcela que congrega com essa cultura Isso parece pouco, mas 500 jovens fazendo cultura nas ruas.

Não queremos esses jovens copitados pro crime!

Em entrevista concedida ao programa Estação Periferia, (o primeiro programa da tv sergipana exibido em rede nacional e internacional), Mano Brown, líder do mais importante grupo de rap do país - os Racionais MC´s, foi questionado ao que se devia a junção dos 4 pretos mais perigosos do Brasil, e ele respondeu: era pra ser uma quadrilha, um time de futebol, um partido... um grupo de rap tá bom! Essas opções ainda estão expostas a nossa juventude, mas nem todos saberão escolher o Hip Hop.

Então viva aos grupos da cultura hip hop da nossa cidade: Familia Milgrau, Flormarias, Resistência Suburbana, Mensagenegra, Fosco do RAP, Sagaz das Atalaias, Os Periféricos, SMP, Nação do Gueto, RSDs Crew, AFB, Chagas, Kazo, Crio, Guga, Deza, Shalom, Smurf Bronca e CIA, Diconduta, coletivo ALPV e tantos outros!

Valeu Nação Hip Hop Brasil!

Nos vemos nas ruas lutando pelo respeito a nossa cultura!

PS: a Lei 4.064/2011 é de autoria da ex-vereadora, Karla Trindade e foi sancionada e executada em 2012, pelo ex-prefeito Edvaldo Nogueira, com a presença de nomes da nata do Hip Hop brasileiro, tais como: DEXTER, Gregori, GOG, Nelson Triunfo, Toni C, Dj Rodrigo, B.boy Hancock, Todinho, Dj Branco, Dj Loo, Nego Jam, Mandrake e elaine Mafra ( Rap Nacional) e toda rapa a cena local!



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